É bem verdade que a hermenêutica bíblica foi, é e continuará sendo um desafio para todos que a desejar fazer de forma responsável. Ainda mais quando utiliza-se a ótica antropológica.
É um desafio, pois os fatos bíblicos foram vivenciados em tempo e cultura isolados. No entanto a Bíblia hoje possui um alcance “global” – mesmo havendo lugares que ela ainda não chegou. Podemos imaginar, ao pensar ou tentar explicar, a melhor interpretação para os dias de hoje de textos com o de juízes 20.6. “Então peguei na minha concubina, e fi-la em pedaços, e a enviei por toda a terra da herança de Israel; porquanto fizeram tal malefício e loucura em Israel.” Podemos afirmar que esse texto em seu sentido literal estaria totalmente fora da nossa realidade.
É um desafio, porque grande parte dos fatos bíblicos foram registrados em tempo e cultura diferentes dos que foram vivenciados. A exemplo disso são os evangelhos. Jesus viveu dos anos 1 aos 33 e o evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, só o foi entre os anos 64 e 68 d.C.1, trinta e um anos depois.
É um desafio, visto que as traduções da Bíblia para as “línguas modernas” foram feitas também em momentos e culturas diferentes das que foram vividas e registradas. A Bíblia em português foi traduzida e publicada totalmente na Inglaterra, pelo padre português João Ferreira de Almeida, apenas em 18192.
Como se não bastasse , podemos dizer que a hermenêutica bíblica na perspectiva antropológica continua sendo um desafio, porque tanto o expositor como o ouvinte da Bíblia hoje vivem em um contexto histórico-político-social bem diferente um do outro, ou seja em um pluralismo – bem descrita por Peter L.Berger“Um estado em que há pessoas que levam uma vida diferente na mesma sociedade (...) estado em que se encontram juntas diferentes formas de vida numa sociedade sem referências a uma ordem comum de valores”3 – e de todas as etapas vivida pela Bíblia até ela chegar como está em nossas mãos.
Resta-nos então uma aproximação, cautelosa e responsável, da Bíblia. Trazendo para a sociedade atual os aspectos relevantes da Palavra da Deus, de forma que atinja as carências do nosso povo. Como já disse o professor Carlos A. Pires “Não é fácil interpretar com exatidão a Bíblia e anunciar com nitidez a verdade de Deus. (...) Desta forma, ocupemo-nos de inquirir sobre as normas comuns que nos permita entender com maior pureza a mensagem bíblica e entregá-la com a maior nitidez possível.”4 . E assim poder ter uma consciência tranqüila quanto à hermenêutica utilizada.
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1. UNGER, Merrill Frederick. Manual Bíblico Unger. São Paulo: Vida Nova, 2006. p 394.
2. http://www.pilb.t5.com.br/1Bibliaportu.htm
3. BERGER, Peter L. Modernidade, Pluralismo e Crise de Sentidos. Petrópolis: Vozes,2005. p 37.
4. PIRES, Carlos Alberto. O que é hermeneutica. Rio de Janeiro-RJ:MK,2004. p 85.
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